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Em meio a divagações calorosas (entre a lamúria e o inconformismo), a voz amena e angustiada interroga: vocês conhecem alguém que se suicidou por conta da “perversidade” do sistema das artes?
Outra voz, menos receosa e de aparente prontidão, murmurou como se tivesse se antecipado à pergunta:
– “Fracos de alma, mal nasceram e já começam a morrer, sonham com as doutrinas do cansaço e da renúncia”.
Tantos suicidados perambulam como se estivessem vivos. E, mesmo que literalmente não estejam mortos, de vivos apenas espectros. Mortos em vida. Vermes, agonizantes pregadores da eternidade. Não se sabem mortos ou fazem questão de não nascer. Ou de não saber. Corretores do paraíso em terra, do lugar idílico, da santa paz. Devoradores de hóstias sagradas. Pregadores da enfermidade. Homens-jazigo. Mantenedores de mausoléus caducos. De paradigmas caducos. De pensamentos esquálidos. De valores caducos. Catequizadores do templo da arte. Entonadores de cânticos da morte em vida; do célebre ritual dos astros; do ritual das celebridades cínicas; do hipócrita ritual da boa vizinhança.
Vocês sabem de casos de artistas que se suicidaram por não suportar o “mundo” da arte? (mas de que arte?)
Tantos mortos ziguezagueiam vivos. Mesmo que literalmente não estejam vivos, de mortos apenas um estado. Vivos na morte por não pregarem a eternidade. Afirmam a tragédia e finitude da vida enquanto nos amordaçam com a corda no seu próprio pescoço. E gozam da corda, como quem se sabe vivo – bem mais do que a vasta catatonia que se crê viva. Embora arrastem a cadeira para o lado e tenham seus corpos suspensos, continuam entre nós. E esbravejam: pensar é também amordaçar! E rufam: só se pensa com a corda no pescoço!
A voz hesitante, vocês sabem de casos de artistas que se suicidaram por não suportar…?
A voz trêmula, vocês sabem de casos de artistas…?
A voz minguada, vocês sabem…?
A voz…
Talvez eu venha a ser o primeiro. Chutou a cadeira ao lado e seu corpo dependurado grunhia e esperneava-se, não por arrependimento, mas de prazer. Com extrema tranquilidade, a palmos do chão, ele pendulava enquanto o sorriso franzia sua testa.
O silêncio.
Artista bom é artista morto!?!?!