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No início, até que estava interessante. Todos queriam ver de que maneira Daniela Mattos iria interagir com os inúmeros objetos que, aparentemente desorganizados, abarrotavam a mesa à sua frente. Ela pega um batom, passa-o na boca e, num rompante neurastênico, ultrapassa as linhas dos lábios, esfregando o batom por quase todo o rosto. Depois, pega uma Polaroid e faz um auto-retrato. E assim vai: de batom em batom, de foto em foto, pegando um objeto aqui, outro ali, durante… uma hora e meia!!??
Aos quinze minutos de performance, ficou mais divertido observar a platéia. De curiosos e ansiosos, seus semblantes se transformaram em puro tédio. Dentro dos limites de cada um, os espectadores resistiram o quanto puderam – uns por educação, outros pela esperança de ver algo novo. Afinal, ela, a esperança, ainda é a última a morrer. Mas ela morre.
Os fotógrafos que faziam a cobertura do evento foram os primeiros a sair. Afinal, não havia muito a fotografar, visto a repetição das ações. Em seguida, os curiosos vindos da rua. Depois disso, a debandada foi geral, restando apenas poucos artistas, curadores e críticos. Entretanto, até esses terminaram desistindo. O pessoal preferiu assistir aos vídeos, projetados em telão na sala ao lado, e aproveitar o coquetel de lançamento do SPA das Artes.
A questão aqui não é só o longo período de duração da performance. Pois há trabalhos artísticos nos quais o tempo é fator determinante e influi diretamente no resultado. Não é este o caso. O tempo em nada acrescenta. Muito pelo contrário, ele rouba do trabalho sua potencialidade em se tornar algo significativo e o dilui. Sem falar da maneira extremamente caricatural que Daniela escolheu para expressar a neurose, a ansiedade e o isolamento do indivíduo que vive nas grandes cidades.
Ok. Sei que muitos irão erguer a bandeira de que “o mais importante é se o trabalho tem fundamentação teórica”. Sei também que deve haver muitos curadores querendo escrever um texto legitimando cada segundo gasto na performance. E até há quem levante a questão: “você sabe de quem ela é namorada?”, como se a relação pessoal e íntima que travamos com outros artistas fosse garantia de um trabalho bem realizado.
Certamente, há uma fundamentação teórica. Bom, pelo menos assim espero. A questão, contudo, que quero levantar é que nem sempre uma obra artística bem realizada no campo teórico consegue repetir o mesmo desempenho na prática. É quando a concepção é boa, mas o resultado plástico não. Pois é. Acontece. Para evitar que uma oportunidade de mostrar seu trabalho seja desperdiçada, o artista – falo aqui de maneira geral – deve ter mais paciência e não se contentar com a primeira idéia que surge em sua mente ao dar plasticidade à sua obra. Veja bem, não estou afirmando que foi o que aconteceu com Daniela. Mas, em todo caso, sugiro à artista – com todo respeito – que, se for repetir a performance, gaste mais tempo com o tempo.