Revista Tatuí

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Rapidinhas

Escrito por Aslan Cabral, Bianca Tomaselli, Cristiana Tejo e Lisette Lagnado

Cristiana Tejo

TATUÍ Quais os seus pintores preferidos?

CRISTIANA Gostaria de falar de meu percurso afetivo de descoberta da arte e não necessariamente de julgamentos estéticos com relação à pintura. Gosto de olhar para trás e ver os pintores que me seduziram e me trouxeram para o universo da arte e para o entendimento que tenho deste campo. Acho que Turner tem um papel muito importante em minha formação. Seus mares e céus ameaçadores ainda me tocam quando os vejo pessoalmente. Rembrandt me emocionou de primeira e ainda continua sendo um de meus favoritos. Rothko e Matisse foram dois artistas que me marcaram muito no início de meus estudos de história da arte. Atrai-me muitíssimo suas experimentações cromáticas e pictóricas. Admiro ainda Malevich e Yves Klein pelos questionamentos e novos dimensionamentos dados à pintura do século XX e Vicente do Rego Monteiro pela densidade e envergadura de sua proposta artística. Muitos outros nomes de minhas predileções afetivas ficaram de fora de serem publicizados desta vez. Mantém-se, entretanto, vivamente guardados em mim.

 

Aslan Cabral

TATUÍ Aslan, comente sobre o pop na sua produção…

ASLAN O ou A pop, assim como da arte conceitual e de todos os ismos dos quais estudei e estudo já escorreram pelos diferentes experimentos, suporte e mídias que com os quais trabalho. Impossível na mesma medida que desnecessário é pontuar o que é somente pop ou não. Em agrupamentos tão líquidos, como artista posso escorregar de uma categoria à outra.  Não faço arte para seguir em 2006 me sentindo futurista, expressionista, pop ou somente realista – ou artista que faz arte contemporânea. Faço arte atual. A minha produção existe na [e não da] colisão de todos os estilos, ismos, e vertentes que antecedem o momento que inicio, realizo ou finalizo cada trabalho. “Hoje nada impera porque tudo impera. Todos os estilos pertencem a todos. As coisas já não são tão mono”.

 

Lisette Lagnado

TATUÍ Certa vez, você declarou que acreditava que uma das grandes “funções” de um crítico de arte seria a de contribuir com o desenvolvimento estético e poético de sua própria geração – aqueles artistas com os quais o crítico de fato convive e divide experiências cotidianas. A que geração você se sente filiada e de que modo você entende que pode ter contribuído com ela?

LISETTE Eu me sinto filiada ao momento presente e portanto aos artistas que estão com gana para negar valores retrógrados, com gana de construir uma nova percepção estética. Mas, para isto, eu preciso sentir que este movimento do artista é interno, é essencial e verdadeiro. Não é pegar uma onda para surfar no discurso dominante. Eu me sinto solidária a criadores extemporâneos que eu tento trazer para o presente, tento dar visibilidade para aquilo que os outros não olham, que parece esquisito de início. É isto que mais me atrai. Minha vivência da arte não tem a distância que a crítica requer. Ela tem sido muito apaixonada, deixando minha biblioteca à disposição para quem quer saber mais, abrindo vinho e alimentando longas conversas na minha casa, que giram também em torno de questões éticas. Isto propicia uma escrita mais livre, menos engessada. No meu caso, não posso citar uma geração. Trabalho no meio artístico desde 1980. Já escrevi sobre artistas dos 70, dos 80, dos 90, do agora. Mas minhas relações são todas com indivíduos, um a um, não se fazem em “blocos”. Eu não sou de grupo nenhum.

 

Bianca Tomaselli

TATUÍ Você enxerga (e o que seria) academicismo na arte contemporânea?

BIANCA Sabemos do artista acadêmico, como aquele que se situa na mão oposta ao artista moderno, seguindo normas de desenho, pintura e escultura dadas nos tradicionais Liceus, Escolas e Academias de Arte. Hoje, associamos “Academia” à Universidade, porém sua produção não deve mais ser confundida com o que falávamos acima. Primeiro, pois não nos faz mais sentido o embate entre acadêmicos e modernos. Segundo, porque qualquer Universidade qualificada oferece ferramentas importantes para o processo poético do artista. O problema está na distância que o acadêmico pode vir a ter da prática artística, ao tratar dela. Mas, ainda que haja questões que dizem respeito apenas à academia e outras que se referem à prática artística, tanto melhor se ambas forem capazes de dialogar, entrecruzando-se. Neste atravessamento, uma possibilidade de olhar para o termo, sem indisposições, nos é dada.

Rapidinhas / Escrito por Aslan Cabral, Bianca Tomaselli, Cristiana Tejo e Lisette Lagnado / Revista Tatuí Edição 02 / www.revistatatui.com.br