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(…) o sentido de uma imagem não está somente e nem primordialmente na própria imagem. Nenhuma imagem carrega sentido em si mesma. O que dá sentido a qualquer imagem é a sua relação com o espectador que a olha e não obrigatoriamente o que ela retrata ou mostra.
Paulo Menezes – USP em A constituição de um discurso visual crítico sobre as imagens: possibilidades e perspectivas.
O silêncio pareceu saltar daquelas imagens como um grito desesperado. Não foi preciso ir fundo, nem vasculhar um repertório tão vasto de sensações de solidão para que me fosse possível perceber o existencialismo estampado em Quando Dez Mil Vozes Se Calam, um trabalho de Bruno Vilela.
Quase se pode ouvir o eco – um “si mesmo” refletido ali (se não um “si mesmo” atual, um “si mesmo” que já existiu). É como se perceber imerso numa sensação de ausência. Engolido pelo vazio. Uma sensação de morte ainda que vivo. Ou a angústia de não saber calar tantos uivos na mente que se preferia estar morto, ou ressurreto num bicho.
O corpo lânguido envolto por uma natureza que extrapola vida faz surgir o morto-vivo. E quando a ausência — deletada pela flacidez dos gestos — ao comer um Big Mac põe à mostra vivo-morto. São gritos de silêncio. Eterno estado de desconforto — seja no agito da cidade, ou na quietude de uma floresta.
Seria reducionista falar em arte pop em razão das marcas registradas como Adidas e McDonald’s. Acredito que pelo tema o trabalho tem um quê muito mais expressionista e as marcas reconhecidas ficariam como uma necessidade de se determinar o tempo — permanece a indefinição de lugar.
Como disse, não me foi tão difícil perceber o estado de espírito da obra. Mas, pergunto-me se ela é assim tão óbvia. Ou se essa solidão latente que há em mim fez agregar ao que vi esse significado. Talvez um coração menos aflito consiga perceber um outro sentimento que não me é possível.
Passei a mão nas poesias em braille de cujas palavras não pude desfrutar. Vi-me encantadamente entristecida pelo acesso negado. Se fosse deficiente visual, talvez pudesse deleitar-me com as poesias, mas, perderia a possibilidade de fruir do conteúdo simbólico na leitura das imagens. E se surda, o trabalho talvez não passasse de uma grande redundância — provavelmente porque farta de silêncio demais.